Quem trai esquece, quem é traído jamais. Götze precisará muito mais do que futebol para reconquistar
- João Pedro Zettermann
- 21 de jul. de 2016
- 3 min de leitura
Quem não gostaria de uma segunda chance? Reparar erros e tomar atitudes pensando melhor nas consequências. Infelizmente a vida não dá isso a todos. Para Mario Götze, no entanto, ela deu.
Três anos após deixar o Borussia Dortmund rumo ao Bayern, o jogador está de volta, ganhando da vida uma caneta e uma borracha para reescrever a sua história em Dortmund. O primeiro Judas do BVB retorna causando diversas reações na torcida aurinegra. Se alguns estão felizes com seu retorno, a maior parte se posiciona contra. Eu, inclusive.
Götze é um bom jogador mas no Bayern não entregou o que prometia. Os motivos podem ser tantos que talvez nem o próprio Mario saiba explicar. Contra ou a favor, agora ele está de volta.
Vou aproveitar o espaço para contar a minha visão da história.
Torço pelo Borussia desde 2011. Vi Götze deixar de ser uma promessa que entrava nas partidas com frequência para se tornar o camisa 10 e titular indiscutível. Mario jogava um futebol de toques rápidos e intensidade, com confiança, acertava quase tudo que tentava. Ao lado do seu fiel escudeiro Reus e de Lewandowski, formou um trio de frente que infernizou os adversários.
Götze caminhava a passos largos para escrever uma história linda de amor com o Borussia Dortmund. Era o romance perfeito, o amor à primeira vista que surge com um jovem jogador que leva o seu clube de formação ao topo. Mario trilhava o caminho da glória.

Até que, no dia 23 de abril de 2013, o pior que uma relação pode registrar é descoberto: a traição. Era semana de Uefa Champions League. Uma SEMIFINAL! Confronto duríssimo contra o poderoso Real Madrid. Neste dia, na véspera do jogo mais importante da história recente do Borussia Dortmund, Mario era anunciado como jogador do Bayern.
Acordei em choque. Confesso que a decepção foi tanta que, mesmo com uma estupenda atuação no dia seguinte na goleada por 4 a 1 que praticamente nos colocou na final, eu não conseguia olhar para o nosso camisa 10 sem sentir raiva.
A traição deixou feridas e cicatrizes. A torcida e o clube ficaram machucados, enquanto Mario seguia a sua vida rumo ao 'pacote completo', que ele tanto mencionou para defender a sua atitude covarde. A lesão, que mais pareceu uma desculpa para não participar da final contra o próprio Bayern, veio só para coroar as covardias de um garoto que, no auge da sua imaturidade, deu as costas para quem sempre esteve ao seu lado.
Em Munique, Götze não encontrou o que procurava. Não teve sucesso, não foi titular, não caiu nas graças da torcida e nem de Guardiola. Na seleção, também colecionou fracas atuações, começando como titular e virando reserva no meio das campanhas na Copa do Mundo e da Eurocopa. Mas como tem estrela, Götze sempre será lembrado por ter feito o gol do título alemão no mundial do Brasil. Mesmo tendo decepcionado na competição, Mario foi o herói. Coisas que só o futebol pode nos proporcionar....
Dito isto, é inegável mencionar a coragem dele em aceitar retornar tão pouco tempo depois. Seria mais fácil para ele ir para a Premier League, talvez voltando a trabalhar com Jurgen Klopp no Liverpool. Entre as opções colocadas em sua mesa, Mario resolveu voltar pra casa buscando carinho e atenção. Um ato de coragem de quem sabe que vai enfrentar muita pressão.
Por falar em carinho, essa parece ser uma coisa que Götze precisa muito. Ele dá a impressão de ser o tipo de jogador que só rende se sentindo bem em um ambiente. Carinho, por parte do clube, certamente não faltará a ele.
A realidade é que Götze precisará de muito mais do que apenas boas atuações para reconquistar o carinho de quem antes o idolatrava. Ele precisará de atitudes e, principalmente, reconhecer que no momento atual ele não é totalmente bem quisto em Dortmund.
Como torcedor, não concordo com a contratação. Tenho dificuldade em aceitar a volta de um jogador que deu as costas para o clube que o formou. Mas o que resta é aceitar a volta de Götze. O arrependimento parece ter pesado bastante na cabeça do novo/velho camisa 10 do Borussia Dortmund. Esperamos que ele use isso como motivação e trilhe o caminho da glória que ele deixou de lado em 2013.
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