O Milagre de Dortmund
- Matheus Tatsch
- 23 de mar. de 2015
- 2 min de leitura
Nesta coluna estarão presentes textos, contos, artigos, anedotas e todos os outros recursos literários que nos permitirem destilar nosso sentimento pelo Borussia Dortmund. Começamos hoje com "o milagre de Dortmund". Te aprochega, vivente!
O ano era 2013 e eu estava na Argentina quando Eliseu empurrou a bola para as redes e a minha cabeça à parede. Com o rosto desanimado, via naufragar as chances daquele ótimo esquadro, frente a um objetivo e bem organizado Málaga de Pellegrini. Aquela equipe borussiana, que desfilava qualidade na Bundesliga com Reus, Lewandowski, Blaszczykowski, Gündogan, etc., ficava pelo caminho na competição mais importante da Europa.
Quando o fim já era próximo e a decepção já era presente, noto que nenhum jogador aurinegro apresentava o meu quadro clínico: uma raça incrível tomava o rosto de cada atleta, algo outrora visto apenas em finais hemáticas da selvagem e humana Libertadores. Era o prenúncio de um milagre.
À la Libertadores, o milagre veio em forma de balão para a área. Escorada de Subotic, confusão e gol de Reus. Era o 2x2, resultado que ainda favorecia os espanhóis. Mas o milagre viria. E veio.
"Jetzt kommt das Wunder von Dortmund", anunciava o narrador alemão, "agora vem o milagre de Dortmund", fazendo alusão ao "milagre de Berna" – a vitória germânica sobre a poderosíssima Hungria de Puskas em 1954 na cidade suíça. Motivação maior, não haveria.
E são esses instantes, esses momentos que destroem qualquer teoria, qualquer esquema tático, qualquer racionalidade e, justamente por isso, povoam nosso imaginário para sempre com gritos de emoção.
Lewandowski, que supostamente deveria estar esperando a bola na área, a alçou desde a meia-lua para uma série de trogloditas, malucos, animais, que após segundos de limbo, de vácuo, de total falta de sentidos, cumpriram o prenúncio e efetuaram o milagre. O milagre de Dortmund.
"Santana, Santana, Santana!!!" vibrava o comentarista alemão, nada imparcial e que segundos antes, perguntava quem havia empurrado para as redes. Pouco importava quem havia feito o gol. De um jeito ou outro, a bola seria levada ao barbante, nem que fosse pelo vento. O milagre seria cumprido. A parede, que antes recebia o peso deprimido da minha cabeça, agora recebia a força dos meus punhos, fanáticos e orgulhosos. A alegria era aurinegra.
Em uma pensão argentina na cidade de La Plata, eu, brasileiro, comemorava com afinco o feito do esquadro alemão, do qual me fiz fã após anos em terras germânicas. Este é, ao fim e ao cabo, a grande moral (e o milagre) da globalização: assim como a economia, nossas emoções não têm mais limites geográficos.

Comentários